As atividades do Palco SEED tiveram início com a apresentação dos indicadores nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação, elaborados pelo MCTIC e apresentados ao público da 16ª Conferência Anpei de Inovação pelo Secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTIC, Álvaro Toubes Prata. Na mesma mesa participaram o Vice-líder do GT Lei do Bem da Anpei e engenheiro da Vale, Geraldo Barbosa, e a Líder do GT Lei do Bem da Anpei e especialista de Relações Institucionais da Totvs, Isabela Dias, que realizaram um debate dos indicadores sob a moderação Coordenador do Comitê de Fomento à Inovação da Anpei e engenheiro da Eletronorte, Luís Frade.
Prata fez uma seleção de alguns gráficos que compõem a publicação do MCTIC e oferecem um diagnóstico do desempenho brasileiro nos campos e o investimento ao científico e tecnológico no âmbito público e privado, entre os anos de 2000 e 2015.
Os dados mostraram que o investimento em P&D é 25% mais baixo do que o valor investido em C&T, o que demonstra que o setor público continua sendo o grande propulsor do desenvolvimento técnico-científico do país. O Ministério da Educação responde por 60% do valor total aplicado, direcionando-o para o fomento de pesquisas nos programas de pós-graduação do país.
Segundo o secretário, “uma primeira conclusão é que nós precisamos intensificar a parceria entre o setor acadêmico e empresarial. Precisamos incentivar que as empresas façam P&D e que o investimento público alavanque o investimento privado”.
Durante o debate, Isabela comentou sobre a dificuldade que o Brasil ainda enfrenta para manter no país o capital humano para P&D, porque uma parcela dos pesquisadores opta por seguirem carreira no exterior. Ela perguntou ao secretário, quais estratégias poderíamos adotar para manter esses talentos atuando nas organizações nacionais.
Para Prata o esforço deve ser direcionado para criar condições e oportunidades para que esses jovens pesquisadores tenham vontade de voltar. “Precismos atuar de maneira estratégica, facilitando a carreira de nossos jovens, cuidar desses talentos. E penso que uma maneira são as startups de base tecnológica e o incentivo ao empreendedorismo”, salientou o secretário.
Barbosa interpelou o palestrante a respeito dos mecanismos indicados para incentivar também o investimento em P&D pelos governos estaduais, questão que foi complementada por Frade sobre os modos de alavancar esse mesmo investimento pelas empresas.
Prata criticou a tendência brasileira em procurar um modelo único para a Inovação que não se adapta a todas as realidades. Para ele é preciso criar legitimidade regional, porque aquilo que pode ser bom para o Acre pode não ser adequado para o Espírito Santo, por exemplo.
Nos minutos finais do painel, foi feito o lançamento do “Guia da Lei do Bem”, publicação criada pela Anpei para orientar as empresas que se beneficiam da Lei do Bem sobre regras e formas de avaliação técnica, com intenção de uniformizar conceitos e conceder maior segurança jurídica aos envolvidos.
Outro propósito da iniciativa é aumentar a confiança e a previsibilidade no processo de utilização da lei.
Gestão da Inovação
O objetivo desse painel foi o registro de experiências de empresas que usaram a plataforma ANPEI EXCHANGE como ferramenta para diagnosticarem os gargalos ou impeditivos do processo inovativo em suas organizações e as soluções encontradas e aplicadas a partir disso.
A representante da empresa Product Specialist da Kimberly-Clark, Camila Cazoto, contou que, através da metodologia implementada pela ANPEI EXCHANGE, a empresa encontrou 32 oportunidades para inovação e a necessidade de ir além da inovação incremental que praticavam até aquele momento. A empresa já estabelecia a integração entre muitas áreas para realizar a P&D, mas ainda não se alinhava com departamentos internos como marketing, manufatura, jurídico. Essa se tornou a prioridade zero da empresa: promover a inovação aberta internamente, integrando as diferentes áreas dentro da empresa e construindo uma linguagem sobre inovação. Segundo Camila, a partir da plataforma ANPEI EXCHANGE foi possível obter uma visão mais completa do processo de inovação, realizar a autoavaliação e validar com outras áreas o que está sendo feito em P&D.
A Gerente de Projetos da Technip, Maira Ávila, também relatou que um dos gargalos encontrados foi a necessidade de ampliar a integração entre setores internos da empresa. A solução implantada foi o programa INOVA, que tem como proposta promover a colaboração interna entre diferentes setores com vistas a aprimorar o processo inovativo, deixando de ser esta uma tarefa exclusiva da equipe de P&D e passando uma atividade incluída na rotina de toda a empresa. O programa está baseado em três: o foco nas pessoas, entendo–as como protagonistas da inovação; a gestão de ideias para que sejam desenvolvidas; e a comunicação procurando criar uma voz que represente o caráter inovador da organização.
O projeto ANPEI EXCHANGE, foi apresentado pelo Vice-coordenador do Comitê de Gestão da Inovação da Anpei e Diretor de Inovação da Elo Group, Jaime Frenkel. Segundo ele, a proposta surgiu há três anos e tem como objetivo reunir um repositório de conhecimentos e boas práticas voltadas para a inovação empresarial. A Elo Group foi escolhida para estruturar o conteúdo, em uma parceria sem fins lucrativos.
Para construir a plataforma, foram realizados workshops com empresas que são referência em inovação em diferentes setores para captar as melhores práticas e aprendizados. De forma geral, a lição apreendida com essa troca de conteúdos demonstra que a inovação precisa ser pensada como um sistema, muito mais do que como um processo.
Frenkel ressalta que “não existe certo ou errado em termos de inovação. Existe o que se aplica melhor a cada empresa” e acrescentou que “o ANPEI EXCHANGE não quer ser um livro. Quer ser um fichário, no qual pode-se adicionar novas práticas e ideias”.
Ao final, ele destacou dois novos serviços:
O ANPEI Exchange Fast Track – Serviço de consultoria rápida, executada dentro de 5 dias, no qual os especialistas da ANPEI analisam as práticas de Gestão da Inovação de uma organização, identificam gaps e oportunidades de melhoria e definem um plano para levar a inovação a um novo patamar.
O Innovation Architect – Curso de formação e Certificação de Gestores de Inovação, com previsão para início em março de 2018. Ao final do curso os participantes receberão certificado profissional reconhecido pelas empresas associadas a Anpei.
Inovação Baseada em Rede
O último painel do Palco SEED trouxe relatos de organizações tradicionais que conseguiram trazer o espírito de inovação baseada em rede para o seu modelo de negócio e operação. O debate foi mediado pela Diretora da ANPEI e Diretora do Escritório de Transferência de Tecnologia – PUC/RS, Marli Elizabeth Ritter dos Santos. Marli Elizabeth Ritter dos Santos – Diretora da ANPEI e Diretora do Escritório de Transferência de Tecnologia – PUC/RS
O primeiro relato foi feito pelo Secretário de Inovação e Novos Negócios do MDIC, Marcos Vinícius de Souza. Ele contou sobre a experiência da secretaria em que atua na elaboração de um programa de fomento para startups, o Inovativa Brasil.
A elaboração do programa partiu da percepção de que os idealizadores de startups entendiam muito pouco sobre a constituição de um negócio, mas sabiam muito a respeito de tecnologia. Logo, seria necessário criar mecanismos de formação para o empreendedorismo e para conexão em rede.
O programa foi dividido em três partes: treinamento, mentoria e conexão, e todo o desenvolvimento só foi possível, porque a própria secretaria acionou uma rede de contatos que construiu a ideia de forma colaborativa: Endeavor, Anjos do Brasil, CNI, Sebrae, Senai, bancos de fomento.
A Inovativa foi premiada em 2016 como melhor aceleradora de startups do mundo e em 2017, foi considerada a benchmarking mundial no setor público pela OCDE
A mesa teve continuidade com a apresentação do Diretor de Inovação do Hospital Albert Einstein, José Cláudio Terra, que contou sobre o desafio de trabalhar com conceitos de inovação dentro de um hospital. Segundo a ele a estratégia para implementar essa cultura inovadora segue alguns planos de ação:
Individual/pessoal – é preciso identificar os agentes de mudança em uma instituição, porque não é possível mudar a percepção de todos para aceitar inovação
Organizacional – como envolver outras áreas para alcançar um alinhamento de ideias e expectativas no nível mais alto da organização, de forma que afete e transforme a liderança.
Ecossistema – trabalhar em nível estratégico, conectando empresas diferentes e promovendo alinhamentos organizacionais, e estabelecendo uma colaboração interdisciplinar, na qual, pessoas de áreas diferentes trabalhem juntas.
Na última apresentação da mesa, o Head of Google Campus São Paulo, André Barrence, destacou sua atuação na rede de empreendedores organizada pela Google e atrelou a ideia de inovação em rede aos valores e missão da empresa, que segundo ele se define como o propósito organizar toda a informação do mundo e torná-la útil e acessível a todos. A empresa, uma das gigantes em tecnologia, mantém uma comunidade de desenvolvedores ao redor do mundo que conta com centenas de milhões de colaboradores. São Paulo tem hoje a maior comunidade de empreendedores de tecnologia, alinhando-se com cidades como Tel Aviv, Seul, Madrid, Varsóvia e Berlim, que também já contam com a rede de empreendedores da Google.